O plano
principal da noite era dormir juntos numa configuração espacial
pré-estabelecida em várias conversas românticas (e qual o cara nunca disse que
gostaria de tê-la deitada no peito, meio abraçados, pra transmitir a sensação
de proteção tão esperada pela mulher amada?). Falharam miseravelmente.
Na
cama box de casal, a cena era a seguinte: Ela deitada de bruços, com o rosto
amaçado pelo travesseiro fino, os braços esticados com as palmas das mãos
viradas pra cima, tomando boa parte da área destinada ao repouso de ambos. As
costas nuas estavam descobertas, expostas ao meio ambiente hostil do inverno
viçosense. As cobertas tinham suas duas
funções básicas impedidas: não cobriam por completo o corpo da moça, nem do
frio e nem dos olhos apaixonados do pobre rapaz, feliz, radiante, mas fadado a
triste sina de quase cair da cama devido ao curto espaço destinado a ele.
Um
detalhe chamou a atenção: Ela roncava. E aquele era o ronco mais lindo do
mundo. Como asas de anjo batendo, a emissão sonora em médio grave propagada
pela pequena e deliciosa boca, lembrava o meio termo entre um carro a álcool
morrendo no inverno, e uma porta enferrujada se fechando lentamente ao sabor do
vento. E esse som, único, demonstrava o
que todo homem gostaria de saber sobre sua mulher. Explico abaixo...
Todas
as mulheres roncam. E não há honra maior do que ouvir o ronco da mulher amada.
Essa "atípica” apreciação de detalhe tem um significado pouco difundido
nas rodas de conversas das meninas ou meninos, mas o fato é que o ronco é um
“eu te amo” bem disfarçado.
Se
ela ronca ao teu lado, significa primeiramente que está satisfeita e exausta
graças a alguma coisa. De alguma forma você foi capaz de agradar seu amor, e aí
vem o ponto crucial: ela confia em você. Se ela desliga todas as funções do seu
corpo entrando em torpor, quer dizer que se sente protegida ao seu lado. O
mundo pode acabar da janela pra fora, que ela se sente bem, e segura com você.
Abaixo
a esses dogmas tão antigos! E agradeça a Deus por poder ouvir o ronco de sua
amada... Não há traço maior de confiança... e feliz de quem sabe interpretar
isso.
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