segunda-feira, 6 de abril de 2015

Martinha! Trago o amor de volta em três dias!


Marta Célia, 35 anos. Exímia advogada. Dona de uma oratória mágica e hipnotizante.
            Martinha, como é conhecida pelos amigos do Fórum e da Faculdade, era o típico sonho de consumo do homem contemporâneo. Fluente em cinco idiomas sabia dizer não  das mais diversificadas formas devidamente documentadas na longa odisseia histórica que é relacionar-se com o outro. E ainda conseguia desenvolver novos projetos. Certa vez, ao ser cortejada por um professor, foi capaz de rejeitá-lo com classe metaforizando acerca das diferenças entre cartão telefônico e ficha. Não meu caro leitor, Martinha não era funcionaria de companhia telefônica e tão pouco moradora de Santa Rita do Sapucaí: era apenas inteligente ao extremo.
            Dentro de toda essa versatilidade, morava escondida em uma carapaça (e que carapaça! Um pitéu bacana e supimpa, como diria meu tio de sessenta anos) majestosa, a insegurança em pessoa.
            Martinha tinha um medo patológico de morrer sozinha. Ela não contava o tempo: Contava os óvulos.  A cada primavera passada, via sua beleza juvenil ser substituída pela alcunha de monumento clássico. Uma Vênus com braços, que ainda sim seria capaz de catar papel na ventania para passar um dia dos namorados sendo massageada em algum motel genérico.
            Tão curtos quanto à felicidade conjugal eram seus relacionamentos pautados na cobrança. No anseio pelo homem perfeito, Martinha deixara escapar por entre os dedos, o garçom do piano bar, o professor de Português, o estudante de medicina e o Contador que finalmente havia lhe tratado como um rei trata sua rainha.
            Gastava horas lendo Augusto Cury, Tati Bernardi, Caio Fernando Abreu.  Delegava ao Tarô cigano, as nuances nubladas de seu destino. Entregava-se ao café solúvel com cigarro mentolado, reafirmando para seu subconsciente que sua sina era acariciar um gato angorá assistindo o programa da Fátima Bernardes. Em sua mesa de almoço, um jogo americano, um prato, um copo e a lasanha congelada.
            Trinta perfumes e cremes.   Nas filas de banco, em sua cabeça cansada, Martinha raciocinava pensando em letras de Chico Buarque.  Fechada em seu mundo de autoafirmação, não reparava na maré de olhares masculinos em sua saia hippie e em seu coque que deixava escapar uma mecha castanha por entre os olhos negros. Era uma mulher poderosa, envolta em suas fraquezas mais comuns. A solidão facultativa era sua criptonita.
            Repentinamente, sente vibrar seu telefone dentro da bolsa, rompendo as muralhas de sua introspectiva realidade: Seria o seu Contador clamando pelos seus dedos adornados minuciosamente com o sensual azul marinho Giovanna Antonelli entrelaçando os dele?
            Infelizmente não. Era um lembrete da consulta marcada com a Vidente indicando o horário de Quatorze Horas. Era hora de mudar a postura? Não.


Acrescentou oitenta reais ao saque para pagar o sobrenatural  e foi embora. 

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