domingo, 28 de julho de 2013

Chá pra coração apertado....


                Eu me lembro, como se fosse ontem, (e graças a Deus isso acontece, porque justamente por conta do meu ontem, ante ontem, mês passado, réveillon, natal, dia das crianças de 2012 e datas recentes. lembrar-me dessa temporada me acalenta muito), do montinho de grama no qual me sentei com meus colegas de estágio de vivência, na comunidade do Trinca Ferro, na divisa com a Bahia, pra assistir a celebração da noite.
 A celebração consistia em uma roda de “causos” na qual os mais velhos da comunidade contavam suas experiências nas caças de antigamente, falavam sobre as antigas reuniões, costumes, e principalmente no cuidado com o lar, com a esposa e os filhos. Todos olhavam atentos, entre risos, e goladas de café quentinho soltando fumaça... Alguns de nós com garrafinhas escondidas cheias de rum.
                O meio de mato, sem luz de poste, ou barulho de carro. A gente ouvia ao longe... o som da água do rio batendo nas folhas , os grilos cantando e vários sorrisos de um povo que vivia cheio de incertezas, problemas mas ali, naquele exato momento, estava em paz.
                Fui acometido repentinamente por uma dor de cabeça, a qual só conseguia vincular pela quantidade de sol tomada durante o dia (sou mais branco que papel A4). Reclamei com um companheiro, e uma senhorinha de uns quase oitenta anos veio conversar comigo. Perguntou o que eu tinha. Disse a ela que era dor de cabeça e um pouco de enjoo, pois não estava acostumado a tomar muito sol. Ela pediu que eu a seguisse até a casinha dela, distante uns 50 metros de onde estávamos.  Abriu a porta da cozinha, e eu me sentei em um “tamborete” alojado próximo a uma mesa com toalha xadrez, vermelha e branca.  Pegou a garrafa de café e um biscoitão de polvilho e me ofereceu, enquanto acendia o fogão e colocava água no bule pra ferver, separando umas folhas.
                Eu lanchava e conversava com a senhorinha. Ela me perguntou sobre minha família, sobre Ponte Nova, ficamos batendo papo, até o chá ficar pronto.  
                Ao terminar de preparar o chá, pediu que me levantasse.  – Bebe um pouquinho meu filho. Tomei um gole, senti o amargo das folhas, tão amargo quanto uma desilusão ou conflito. Ela fez o sinal da cruz com o polegar em minha testa, e rezou, mas em uma variação do português que eu mal conseguia entender.  Minha dor de cabeça passou instantaneamente. Eu sempre fui um cara descrente, mas a sensação que tive foi tão intensa que não deixei de perguntar qual era aquele chá, e para o que ele seria indicado.
                Ela me sorriu e disse que o chá era de alecrim com boldo. Que servia pra qualquer coisa, mas o que tinha tirado a dor de mim era a oração.  Pra  coração apertado e triste não existe erva, folha ou flor. Só o carinho.
                Pois bem... Você pode comprar paracetamol para sua dor de cabeça, pode tomar rivotril para sua falta de sono. Mas sinceramente, sem carinho, algum resquício de dor vai te proporcionar cefaleia ou insônia...

Boa noite. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário