Eu
me lembro, como se fosse ontem, (e graças a Deus isso acontece, porque
justamente por conta do meu ontem, ante ontem, mês passado, réveillon, natal,
dia das crianças de 2012 e datas recentes. lembrar-me dessa temporada me
acalenta muito), do montinho de grama no qual me sentei com meus colegas de
estágio de vivência, na comunidade do Trinca Ferro, na divisa com a Bahia, pra
assistir a celebração da noite.
A celebração consistia em uma roda
de “causos” na qual os mais velhos da comunidade contavam suas experiências nas
caças de antigamente, falavam sobre as antigas reuniões, costumes, e
principalmente no cuidado com o lar, com a esposa e os filhos. Todos olhavam
atentos, entre risos, e goladas de café quentinho soltando fumaça... Alguns de
nós com garrafinhas escondidas cheias de rum.
O meio de mato, sem luz de poste,
ou barulho de carro. A gente ouvia ao longe... o som da água do rio batendo nas
folhas , os grilos cantando e vários sorrisos de um povo que vivia cheio de
incertezas, problemas mas ali, naquele exato momento, estava em paz.
Fui acometido repentinamente por
uma dor de cabeça, a qual só conseguia vincular pela quantidade de sol tomada
durante o dia (sou mais branco que papel A4). Reclamei com um companheiro, e uma
senhorinha de uns quase oitenta anos veio conversar comigo. Perguntou o que eu
tinha. Disse a ela que era dor de cabeça e um pouco de enjoo, pois não estava
acostumado a tomar muito sol. Ela pediu que eu a seguisse até a casinha dela,
distante uns 50 metros de onde estávamos. Abriu a porta da cozinha, e eu me sentei em um
“tamborete” alojado próximo a uma mesa com toalha xadrez, vermelha e
branca. Pegou a garrafa de café e um
biscoitão de polvilho e me ofereceu, enquanto acendia o fogão e colocava água
no bule pra ferver, separando umas folhas.
Eu lanchava e conversava com a
senhorinha. Ela me perguntou sobre minha família, sobre Ponte Nova, ficamos
batendo papo, até o chá ficar pronto.
Ao terminar de preparar o chá,
pediu que me levantasse. – Bebe um
pouquinho meu filho. Tomei um gole, senti o amargo das folhas, tão amargo
quanto uma desilusão ou conflito. Ela fez o sinal da cruz com o polegar em
minha testa, e rezou, mas em uma variação do português que eu mal conseguia
entender. Minha dor de cabeça passou
instantaneamente. Eu sempre fui um cara descrente, mas a sensação que tive foi
tão intensa que não deixei de perguntar qual era aquele chá, e para o que ele
seria indicado.
Ela me sorriu e disse que o chá
era de alecrim com boldo. Que servia pra qualquer coisa, mas o que tinha tirado
a dor de mim era a oração. Pra coração apertado e triste não existe erva,
folha ou flor. Só o carinho.
Pois bem... Você pode comprar
paracetamol para sua dor de cabeça, pode tomar rivotril para sua falta de sono.
Mas sinceramente, sem carinho, algum resquício de dor vai te proporcionar cefaleia
ou insônia...
Boa noite.
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