segunda-feira, 12 de agosto de 2019



Sal no Sapo

Vislumbro , para a vida a analogia perfeita
Anfíbios somos, em caráter social
Eu sou um sapo na Vida
Cercado de atiradores de sal!
Saltito por entre as oportunidades
Agarrando as moscas de maneira habitual
Acordo querendo mosquitos
E me deito só levando sal.
Outrora eu era cachimbo
E levava desesperadamente fumo
Depois fui tábua de churrasco,
Levando quilos de linguiça
Mas pra contrapor a preguiça
Inventei essa analogia legal...
Um sapo que caça mosquitos
Verdinho, pacífico
mas que nas costas, só leva sal.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

Martinha! Trago o amor de volta em três dias!


Marta Célia, 35 anos. Exímia advogada. Dona de uma oratória mágica e hipnotizante.
            Martinha, como é conhecida pelos amigos do Fórum e da Faculdade, era o típico sonho de consumo do homem contemporâneo. Fluente em cinco idiomas sabia dizer não  das mais diversificadas formas devidamente documentadas na longa odisseia histórica que é relacionar-se com o outro. E ainda conseguia desenvolver novos projetos. Certa vez, ao ser cortejada por um professor, foi capaz de rejeitá-lo com classe metaforizando acerca das diferenças entre cartão telefônico e ficha. Não meu caro leitor, Martinha não era funcionaria de companhia telefônica e tão pouco moradora de Santa Rita do Sapucaí: era apenas inteligente ao extremo.
            Dentro de toda essa versatilidade, morava escondida em uma carapaça (e que carapaça! Um pitéu bacana e supimpa, como diria meu tio de sessenta anos) majestosa, a insegurança em pessoa.
            Martinha tinha um medo patológico de morrer sozinha. Ela não contava o tempo: Contava os óvulos.  A cada primavera passada, via sua beleza juvenil ser substituída pela alcunha de monumento clássico. Uma Vênus com braços, que ainda sim seria capaz de catar papel na ventania para passar um dia dos namorados sendo massageada em algum motel genérico.
            Tão curtos quanto à felicidade conjugal eram seus relacionamentos pautados na cobrança. No anseio pelo homem perfeito, Martinha deixara escapar por entre os dedos, o garçom do piano bar, o professor de Português, o estudante de medicina e o Contador que finalmente havia lhe tratado como um rei trata sua rainha.
            Gastava horas lendo Augusto Cury, Tati Bernardi, Caio Fernando Abreu.  Delegava ao Tarô cigano, as nuances nubladas de seu destino. Entregava-se ao café solúvel com cigarro mentolado, reafirmando para seu subconsciente que sua sina era acariciar um gato angorá assistindo o programa da Fátima Bernardes. Em sua mesa de almoço, um jogo americano, um prato, um copo e a lasanha congelada.
            Trinta perfumes e cremes.   Nas filas de banco, em sua cabeça cansada, Martinha raciocinava pensando em letras de Chico Buarque.  Fechada em seu mundo de autoafirmação, não reparava na maré de olhares masculinos em sua saia hippie e em seu coque que deixava escapar uma mecha castanha por entre os olhos negros. Era uma mulher poderosa, envolta em suas fraquezas mais comuns. A solidão facultativa era sua criptonita.
            Repentinamente, sente vibrar seu telefone dentro da bolsa, rompendo as muralhas de sua introspectiva realidade: Seria o seu Contador clamando pelos seus dedos adornados minuciosamente com o sensual azul marinho Giovanna Antonelli entrelaçando os dele?
            Infelizmente não. Era um lembrete da consulta marcada com a Vidente indicando o horário de Quatorze Horas. Era hora de mudar a postura? Não.


Acrescentou oitenta reais ao saque para pagar o sobrenatural  e foi embora. 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

UniVerso (para todos os meus amigos apaixonados que começaram agora a arte de versar! )


Veja, é tão ampla
A curva do verso
Que, mesmo sem saber onde chega
Cativa todo o espaço, natural
E no intervalo entre duas linhas de texto
Paralelas (mas sinceras)
Cabe o infinito literal.
Você pode provar o que sente
Colando esses versos num mural.

Veja, é tão infame a verdade
A felicidade na ponta de um punhal
Tem gente que ri enquanto sangra
Como Cordel no varal,
Um verso é na verdade
O mapa astral das estrelas
E entre tantos fenômenos astrais
Amor, morte e muito mais
Tudo isso ocorre sem limite
A todo instante
E como o Sol mais radiante,
Você ilumina a escuridão
Universo, Une o verso
Numa relação sozinha
Solitária,
Mas vital.
No final, O poeta
Doente, é uma estrela ...
Cadente...


terça-feira, 16 de setembro de 2014

A Primavera ( ou o amor nos tempos de poucas coisas descartáveis)



             

   O que se via naquela casa datada dos anos 20, era o contraste cruel entre a dor e o alivio. Ornamentando as paredes por sobre o chão de tábuas corridas, fotografias antigas em molduras ovais, algumas encardidas, outras desenhadas. Os lustres, pomposos, foram herança dos  avós vindos da  Europa. Cada toalha que cobria as mesas de canto era bordada à mão por ela, nas noites de angústia frente a uma possível convocação de seu amado para a Guerra.
                Conheci aquele casal.  Por algumas vezes tive o prazer de cumprimentar o marido apoiado em sua bengala, sempre de roupa social, passeando tranquilamente pela avenida na qual nossos lares se encontram.  Ela vi poucas vezes, algumas na janela, outras na porta, para receber o amado, tirando-lhe o chapéu da cabeça e lhe dando um abraço protetor.  Quando era criança, eles visitaram minha avó em um domingo de páscoa.  
                Mas naquele dia, a casa tão linda possuía anexos  em sua decoração.  O contorno do desânimo na face de filhos e netos, cansados, preocupados  com o estado de saúde de ambos. Apreensão. Era chegada a hora da despedida e eles sabiam disso. Foi então naquela tarde quente em que o céu entardecia vermelho, que ela se foi.  Um coletivo abraço, cheio de dor e saudade foi distribuído na sala. – Temos que contar pra ele.
              Naquele momento cheio de peso e saudade adentraram o quarto no qual o Senhor estava deitado, também muito doente, cansado, mas certo de ter sido o melhor para a esposa e família, um bom pai, um excelente amigo e ser humano.  – Temos que conversar...
                E prontamente respondeu:
                - Eu já sei. Ela esteve aqui. Façam como era a vontade dela.
                Um calor aqueceu o peito de cada um ali presente. Era assim que se confirmava uma legítima história de cumplicidade.  O amor moldado em tempos de poucas coisas descartáveis, dos bailes, do fumo em cachimbo, do abraço inocente e sincero entre o eterno casal de namorados que perderam a cor dos cabelos juntos.  Não houve um dia de primavera em que as sombras de ambos não fossem projetada juntas, como uma única figura.
                E como em um conto de fadas, alguns dias depois, ele teve que partir.  Em breve, a primavera vai chegar, e as flores só voltariam a ter a mesma beleza se as sombras de ambos pudessem estar juntas. É assim que é a Vida. E foi assim que me contaram. 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Um chá com Olavo Bilac



Sonhei que tomava chá com Olavo Bilac
Enquanto ele ajeitava o bigode...
Eu pingava conhaque em seu chá
e ele me disse : Todo limite é uma porta
fácil de abrir, mesmo sem chave
derruba-a com a própria vontade
e a mortalha da noiva, remove
nada mais me comove
a não ser a sonegação do beijo da mulher que mais desejo
mas, se esta for a vontade dela
que assim seja....
Nego pra sempre teu beijo.



Delírio pautado em Vinícius de Moraes







Acho que vi, na borda do espelho
por cima da moldura
ao lado da toalha
(qualquer ponto que distraia)
meu olhar do meu olhar
De tão profundo cabe um mar
de tão sereno, cabe o mundo
e de tão cansado... cabe o sono....
Acho melhor me barbear as cegas...
( o que o olho não toca, o coração não reclama)

E criado nessa cultura, de encontrar ternura
em todo tipo de mulher,
De ouvir latir o Cachorro engarrafado
na certeza de ter Dedo e Língua...
Eu vou levando minha vida
ouvindo bossa nova...
enfim, eu sei que vou te amar...
e sabendo, que tristeza, não tem fim, felicidade sim, que seja infinito enquanto dure!



A diferença, entre o Ontem e o Hoje



Eu sinto falta...
De desenhar no espelho embaçado do banheiro...
De sentir as folhas das árvores batendo na cabeça quando voltamos pra casa depois de umas cervejas...
De fazer aquele cafuné em um cachorro de rua que balança marotamente o rabo e vem quando a gente chama.
De parar pra tocar um violão num banco de praça
 com uma galera gente fina...
De querer impressionar uma moça bonita
 tocando Nothing Else Matters do Metallica.
Eu sinto falta de escrever em um guardanapo
 qualquer coisa e mandar entregar.
Enquanto o povo se massacra em guerras... em confusões, em debates...
 eu só sinto falta da simplicidade, 
de observar as pequenas coisas com o coração.
 E respeitar cada folha de árvore que cai quando a gente tenta roubar uma flor de lampião.
.. e cada trastejada de corda no violão de braço torto,
 buscando no olhar de uma garota bonita,
 qualquer traço de : - Puxa.. ele é foda!