quarta-feira, 1 de maio de 2013

Capitu...e a Chuva....


Capitu e a Chuva

O tempo fez do olhar um conta gotas
E das lágrimas desabafos, perdas...  ganhos
Padronizou dentes, traços finos e bocas
Mas esculpiu docemente o maior dos anjos
E o colocou ali, perto, em outro bairro
Distanciou pelos metros, ou pelos sonhos
Limitou-me a paisagem da janela
Com três morros, uma avenida, uns três quilômetros
Calçamento, concreto e asfalto
Eu cá do alto, vencendo através dos meus planos...
E como numa brincadeira sem graça
A cidade em desgraça, colorida pela argila
Em tom de sépia toda rosa, lírio, margarida
Casa tombada, gente faminta e eu sem sono
Amigo a amigo, recolhendo bondades pelas ruas
Maré de poeira, e olhares tristonhos 
Foi aí, que Deus, em sua sabedoria me atira
Em uma mesa de anjos, planejando a jornada
E o tempo fez do meu olhar conta gotas
A chuva dando trégua vagarosamente
E de repente, não mais que de repente
O teu olhar cruzou meu ar, gerou espanto
Do contraste da tua íris e o preto e branco
Do filme mudo em que se converteu meu desespero
Rosa miúda, carnaval em meu canteiro
Eu que sempre quis evidência deste Deus
Tive minha prova.
Como quem atrai o marinheiro, na ressaca
Olhar oblíquo, sedutor e incomparável
Na contramão do sentimento condenável
Eu me senti bem, ali em tal desgraça
Rasguei os dedos roubando rosas na praça
E devotei horas noturnas com meus versos
É o choque justo entre diversos universos
Convertendo o meu pensar, em verso, prosa
Capitu será pra sempre a linda rosa
Que floresceu no meu olhar e pensamento
Ainda hoje, aqui me lembro do momento
Em que do Paraíso, afinal eu tive prova.


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