Capitu
e a Chuva
O
tempo fez do olhar um conta gotas
E
das lágrimas desabafos, perdas... ganhos
Padronizou
dentes, traços finos e bocas
Mas
esculpiu docemente o maior dos anjos
E
o colocou ali, perto, em outro bairro
Distanciou
pelos metros, ou pelos sonhos
Limitou-me
a paisagem da janela
Com
três morros, uma avenida, uns três quilômetros
Calçamento,
concreto e asfalto
Eu
cá do alto, vencendo através dos meus planos...
E
como numa brincadeira sem graça
A
cidade em desgraça, colorida pela argila
Em
tom de sépia toda rosa, lírio, margarida
Casa
tombada, gente faminta e eu sem sono
Amigo
a amigo, recolhendo bondades pelas ruas
Maré
de poeira, e olhares tristonhos
Foi
aí, que Deus, em sua sabedoria me atira
Em
uma mesa de anjos, planejando a jornada
E
o tempo fez do meu olhar conta gotas
A
chuva dando trégua vagarosamente
E
de repente, não mais que de repente
O
teu olhar cruzou meu ar, gerou espanto
Do
contraste da tua íris e o preto e branco
Do
filme mudo em que se converteu meu desespero
Rosa
miúda, carnaval em meu canteiro
Eu
que sempre quis evidência deste Deus
Tive
minha prova.
Como
quem atrai o marinheiro, na ressaca
Olhar
oblíquo, sedutor e incomparável
Na
contramão do sentimento condenável
Eu
me senti bem, ali em tal desgraça
Rasguei
os dedos roubando rosas na praça
E
devotei horas noturnas com meus versos
É
o choque justo entre diversos universos
Convertendo
o meu pensar, em verso, prosa
Capitu
será pra sempre a linda rosa
Que
floresceu no meu olhar e pensamento
Ainda
hoje, aqui me lembro do momento
Em
que do Paraíso, afinal eu tive prova.
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