Foi
com grande espanto, que a raça humana recebeu a notícia daquela que seria a
maior dúvida de sua história desde que o homem saiu das cavernas e começou a
utilizar o Google: Existia sim, Vida após a Morte. Cientistas, astro físicos, pastores, padres,
terroristas, todos foram pegos de assalto pela aparição de um anjo chamado Ananias.
Ananias
rompeu o véu de mistério que cobria os pensamentos e posturas da raça humana de
uma maneira nada usual. Não se empenhou em um discurso como líder mundial (sabe
se lá de qual mundo). Valeu-se do sobrenatural para explicar que era natural a
existência de outro plano, tão sólido quanto à cidade de São Paulo ou quanto às
roças do inteiro de Minas. Apareceu
simultaneamente em vários pontos do globo, não de maneira televisiva. Apenas se
materializou e ponto.
Enquanto
o Pastor Adamastor rasgava os trinta e seis alto falantes da igreja protestante
na qual era orador, Ananias se revelou descendo do Painel de vidro logo acima
do púlpito, gritando: -Mentirinha! As coisas não funcionam assim, e o senhor
está em nosso Serviço de Investigação por tirar das pessoas o pouco dinheiro
que tem. Não se deve fazer caridade pra instituição com a barriga vazia seu
Pastor!
Em
uma catedral gótica, um gordo padre de feições rosadas rezava em latim, certa
passagem bíblica, para “encorpar” sua celebração. Ananias pula faceiro de
dentro do cálice de vinho, e grita! – Pode parar com o teatro... Nesse exato
momento o senhor recebeu um sms confirmando a festa com os loirinhos poloneses
mais tarde! E a última coisa que vocês usam por lá, é língua a língua morta. A
propósito, com o valor gasto nessa marca de vinho, você poderia ter comprado um
vinho mais acessível à humildade proposta pela sua ordem religiosa e com o
restante, ter comprado algumas caixas de leite para o seu rebanho mais
humilde...
E
não houve sequer na Terra aquele dia, um ser humano que não recebesse a visita
de Ananias. Foi do pemba ao templo
budista. Desmistificou a crença humana
em seus vários deuses e suas várias posturas: Para as mais sinceras, ele
parabenizou, e para os enganadores, o processo de desmoralização derradeiro:
Existia o outro lado, e eles não seriam dignos.
Cientistas
descobriram, com a ajuda da Equação de Seth (rabiscada em um papiro muito
antigo e presenteada pelo anjo), que a realidade era dividida em planos, e que
esse nosso plano era inabitado até ser semeado pelo Criador. Ele não fez o
homem a sua imagem e semelhança, porque como toda Entidade, ele era lindo
demais pra ser copiado e era único, então botou em um macaco um pouco mais de
capacidade e deu a ele a capacidade de (ao contrário do que muitos pensam, não
foi o livre arbítrio) ser burro por opção. Daí criou coisas maravilhosas, como memória
RAM e a Santa Inquisição. Matou semelhantes como nunca, em nome do Criador, que
sequer sabia o que estava acontecendo nesse plano específico, graças a uma
tempestade cósmica interdimensional que embaralhou os canais de comunicação com
seus diversos universos. Pensara que, sua criação era dotada de inteligência suficiente
para coexistir, mas se enganou.
Vendo
que sua obra iria ruir, permitiu a entrada de Ananias na Terra e pediu que
fosse revelada ao Homem, a existência do Divino.
Nesse
dia, constatou-se outra verdade: O Inferno também era real. Ananias explicou
que a presença vital deveria ser reciclada de tempos e tempos, e que a
imortalidade do corpo era vedada ao macaco inteligente: eles conseguiam adiar o
processo seletivo da morte, mas logo essa retificava o edital e levava seus
candidatos sorrindo com um charuto na boca. E que assim seria. Quem não se adaptasse a esfera celestial,
seria despachado para um lugar mais chato chamado Inferno. O Inferno não era muito interessante, apenas
isso foi revelado.
E
assim foi se reformulando a humanidade. Com menos guerra, violência e mentiras,
o macaco inteligente prosperou. Pura e simplesmente por entender, que
independente do nome que esse criador recebia, ele era o dono da bola, e só
jogava partida quem concordasse com ele. Entre o medo da rejeição e do Inferno e
a aceitação no paraíso parecido com uma cidade grande, o homem progrediu, mais
justo, menos pilantra e mais ciente de que é apenas um animal com a sorte de
escolher ser burro ou não.
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