domingo, 25 de agosto de 2013

O fantástico reino do Eu quase sozinho.


Esse céu escuro que recobre a Cidade me induz a vontade de, sem pestanejar, atirar-me a todo indício ou vestígio de futuras felicidades.  No entanto, quando reparo onde estou fincando o pé, e no tom do som dos meus passos, percebo que essa coragem repentina é burra.  Demagogicamente, nomeio isso de esperança. Bobagem. A esperança morreu.
A margem de toda convenção social diurna, a noite todos somos iguais.  Quando em reduzido número de pedestres, a movimentação nas calçadas dessa cidade falida torna-se meio uma dança. E no ápice do espetáculo, eu me flagro andando uns 3 metros fora do passeio. Sou o rei do mundo ao perceber que, além de mim, só os quatro cachorros marrons desfrutam do vento da noite e do barulho de grilos e tevês nas janelas dos prédios.   
Nesse Universo que vivenciei na transferência do ontem para o hoje proporcionado pela madrugada e pelo giro dos ponteiros do relógio, o frentista do posto é mais que qualquer padre, psiquiatra ou advogado.  O maluco que cata latinhas sabe mais verdades que um PHD em filosofia, e sou o mais feliz dos seres humanos.
De réu, eu passo a herói. Um capitão de navio, presidente de um país só meu.  Um escritor como eu sempre sonhei ser, e principalmente, senhor de meu destino.
Todo plano traçado na madrugada, por mais mirabolante que seja, é uma meta.
Então, me lembro de toda demonstração do meu melhor. Das noites nos mais variados lugares, em que às vezes com frio, deitado em um colchão fino como uma carta de baralho, eu admirava minha postura. Recordo-me de cada mulher que amei, de cada amigo que ajudei e de cada escolha. E me sinto um rei bem menor do que eu queria.
Ultimamente eu vinculo o conceito de felicidade à prática social da solidão facultativa.  Eu prefiro os poucos, e loucos, do que a massiva presença dos dias mais comuns.  Utopicamente, ocupo um cargo de alta patente em minha sociedade de cachorros de rua, frentistas, catadores, padeiros chegando pra trabalhar, e principalmente de janelas entre abertas com aquela luminosidade típica das televisões de gente que dorme tranquilamente.
                Como um cavaleiro em uma busca pelo seu reino, eu encontro o que procuro.   Três latas de cerveja. Tomo uma, troco confortantes palavras com meus anônimos amigos, e volto para casa.   A segunda lata é absorvida enquanto escrevo esse texto.
                A terceira, tomo na varanda do meu quarto. O limite entre meu castelo e meu reino, vasto reino calmo, de tranquilidade e silêncio.  Sou o governante de mim, dos meus amores e anseios, pelo menos até os primeiro ônibus encharcar meu dia de ruído. 



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